Estamos a chegar ao final de mais um ano letivo. Nesta altura
é esperado que os professores tenham cumprido religiosamente o programa. E
neste cumprir de programa raramente sobra tempo para os afetos, para escutar a
criança, para perceber os seus interesses, necessidades e curiosidades. Hoje em
dia, na maioria das escolas, tudo é imposto pelo dito “programa” é ele quem o
regula, que decide o que as crianças devem aprender, o que devem querer saber,
como se de marionetas se tratassem, seres desprovidos de vontade própria, como
se a escola fosse uma linha de montagem onde todas as crianças tivessem a mesma
formatação. Há dias tomei conhecimento da atitude que uma professora de 1º
ciclo vinha a ter, a alguns meses a esta parte, com uma criança de 6 anos.
Perante o teor do que me foi relatado, considero-o de extrema gravidade, mas
por uma questão de privacidade e confidencialidade não irei partilhar aqui.
Contudo uma coisa irá certamente acontecer, aos olhos daquela criança a escola
deixa de ser seja um local onde é suposto aprender e ser feliz. Uma criança que
é humilhada, destratada e entregue a si própria, num mundo que lhe é
desconhecido, não irá com certeza melhorar comportamentos…muito pelo contrário.
Felizmente, contacto diariamente e pessoalmente com outras realidades, há
outras escolas e há outros professores (as) que olham para a criança no seu
todo, alguém com vontade própria, capaz de construir o seu próprio
conhecimento. Alguém capaz de definir as suas aprendizagens partindo da sua
experiência de vida, que por muito precoce que seja é carregada de inúmeros saberes
que não devem ser descurados. A aprendizagem não deve ser uma imposição, deve
antes ser encarada como uma descoberta, um querer saber mais. E para tal, devia
haver lugar à pedagogia do afetos. A escola devia apostar acima de tudo nos
afetos, entre os professores/educadores e os alunos. Porque os mais puros e
verdadeiros ensinamentos são aqueles que são feitos com amor, com base num
clima de respeito, solidariedade e cooperação. A escola devia ser um local onde
todos aprendem e todos ensinam, independentemente da sua idade. A criança
deveria ir à escola não só para aprender, mas acima de tudo para “aprender a
aprender”. A mudança de paradigma está nas nossas mãos (educadores), é nosso
dever criar uma escola de afetos, de respeito pelos outros, pela natureza,
adotar um clima democrático de cooperação e de solidariedade. Esta será a
grande aposta para a melhoria do ensino e para que futuramente se desenvolvam cidadãos
socialmente competentes! Eu conheço uma escola assim, outras haverá certamente,
e outras para lá irão caminhar, porque a mudança está nas nossas mãos, na nossa
mentalidade e sobretudo no nosso coração. Por uma pedagogia dos afetos todos
devemos lutar!
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